“Você já se perguntou se acidentes de trânsito acontecem somente por descuido e imprudência ao volante ou se é possível que eles estejam acontecendo devido a problemas de saúde? Sabe em que frequência isso ocorre? Já ouviu informações de acidentes de trânsito relacionados à privação de sono? Muita atenção a esse assunto pois acidentes de trânsito devido à alterações do sono tem acontecido em uma frequência muito maior do que você imagina!”. As colocações são da especialista em neurologia, doutora Taimara Zimath (CRM 21497 / RQE 18708), que atende junto ao Censit.

A profissional destaca que uma pesquisa de outubro de 2021, demonstra que cerca de 42% dos acidentes de trânsito no Brasil estão relacionados ao sono de má qualidade ou insuficiente. Sendo que o risco de acidentes aumenta de maneira inversamente proporcional à quantidade de horas de sono entre os motoristas. Períodos de sono inferiores a 4 horas na noite anterior aumentam as chances de acidente de trânsito em até 10 vezes. O tempo total de sono reduzido não é o único problema relacionado à estrutura do sono, a Apneia Obstrutiva do Sono é uma doença altamente prevalente que contribui para o aumento dessa estatística.

De acordo com Taimara a apneia obstrutiva do sono é um distúrbio neuromuscular causado pela dificuldade de passagem de ar pela via respiratória decorrente de um colapso das estruturas musculares da faringe que limitam o fluxo de ar, havendo respiração superficial, inúmeras pausas respiratórias por segundos e até mesmos por minutos. O corpo e o cérebro são privados de quantidades adequadas de oxigênio durante o sono. Com isso, pequenas pausas respiratórias são suficientes para causarem microdespertares e gerar danos à arquitetura cerebral.

A consequência dessa fragmentação do sono é percebida através de fadiga crônica, sonolência diurna, dor de cabeça matinal, alterações de humor, dificuldade de concentração, falha na memória de curto prazo e até mesmo desenvolvimento de hipertensão arterial.

A especialista observa que a sonolência diurna geralmente começa durante atividades silenciosas – por exemplo, ler, assistir televisão. Conforme a gravidade da apneia piora, os pacientes começam a se sentir sonolentos durante atividades que exigem atenção sustentada – por exemplo, na escola, no trabalho e ao dirigir veículos. A sonolência e a direção formam uma mistura muito perigosa porque o sono vai se instalando aos poucos e a pessoa não percebe. Como dirigir já faz parte da rotina de muitos, o indivíduo pode não se dar conta de que está sonolento ao volante.

Taimara ressalta que a privação de sono lentifica as reações aos estímulos, diminui a velocidade e a precisão de resposta cognitiva e de resposta motora, além disso, pode causar períodos prolongados de lapsos de atenção favorecendo o desenvolvimento de acidentes. Por isso, é essencial o reconhecimento adequado e o tratamento da apneia obstrutiva do sono.

A opção mais comumente utilizada e bastante efetiva para tratamento é o uso de Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas (CPAP) – um dispositivo usado durante o sono que evita o fechamento das estruturas musculares através da liberação de ar com pressão positiva de forma contínua. Não há dúvidas de benefício do tratamento da apneia uma vez que ele possibilita a redução nos níveis inflamatórios sistêmicos, redução do risco cardiovascular e resolução dos microdespertares, assim a qualidade do sono é restaurada e, como consequência, há redução dos riscos de acidentes automobilísticos e melhora da qualidade de vida.